Ser professor é uma cachaça
A professora do Departamento de Física da UFMG Beatriz Alvarenga abriu a sua apresentação no perCurso de formação de docentes da UFMG, dizendo que ser professor é como uma cachaça. Muitos dos professores concordaram com a analogia, provavelmente apreciadores da bebida (com a ressalva: desde que seja cachaça do norte de Minas), outros nem tanto. Durante o processo de formação desses docentes o tema foi discutido através dos fóruns existentes: o sentido, os desafios, as vantagens e desvantagens de se ser professor. O evento se inseriu dentro de um processo iniciado pela UFMG de valorizaçao do papel do professor no processo de ensino e aprendizado de graduação. É uma programação que ocorre todos os anos, promovido pelo projeto
GIZ – Rede de Desenvolvimento de Práticas de Ensino Superior, que tem como finalidade o aprimoramento das metodologias de ensino superior utilizando novas tecnologias e possibilitando a reflexão contínua da prática docente.
Da mesma forma como muitos tem suas restrições à cachaça, sem valorizar os seus aspectos culturais ou gastronômicos, várias pessoas também não valorizam a profissão de professor. É comum o caso nas Universidades onde pessoas são contratadas como professores, mas despresam as atividades de ensino e aprendizado, agindo mais como pesquisadores ou administradores. Nesse contexto se insere a ação do projeto GIZ da UFMG, valorizar a ação docente, colocá-la como um desafio aos professores e tutores dos seus diversos cursos, de forma que sejam criados novos e inovativos ambientes de aprendizado, focados mais na ação dos alunos. A realidade do mundo de hoje exige que o professor além da dedicação, motivação e persistência (o "vício" da cachaça) agregue um maior conhecimento das pedagogias e tecnologias de intermediação necessárias à realidade de suas aulas e de seus alunos.
Os professores e a cachaça
Além da analogia da professora Beatriz, que auxilia a algumas pessoas a entender o papel do professor, no nosso país o relacionamento desses profissionais e a bebida preferida dos brasileiros é mais antiga do que se imagina. O professor Pedro Paulo, de Carangola em Minas Gerais, na postagem
Cachaça: uma pro santo e outra para o professor no seu blog
História Pensante, nos mostra como no Brasil começou esse relacionamento. Nas suas palavras:
Pombal, bastante influenciado pelas propostas dos pensadores iluministas .....procurou, entre outras coisas, adotar medidas que minimizassem a influência da Igreja Católica nas orientações governamentais portuguesas. Uma dessas ações foi a expulsão da Companhia de Jesus do Brasil, na década de 1750. Os jesuítas, entretanto, eram responsáveis por mais de 80% dos poucos colégios no território brasileiro. Sua expulsão criou um enorme problema para a Metrópole, pois não se sabia quem iria assumir o espaço deixado pela Companhia de Jesus.
A solução foi encontrada nos anos de 1762 e 1763. O governo português ficaria responsável pela educação da população no território ultramarino, por meio da criação de escolas públicas. Se, por um lado, a iniciativa resolvia parte do problema, por outro fazia surgir um imbróglio: para educar, professores deveriam ser contratados, e isso implicaria pagamento de salários. Mas de onde sairia o dinheiro? ...A saída foi a criação de um novo tributo para sustentar essa atividade. Porém, mais uma encrenca tomava vulto: o que poderia ser tributado? Os escravos já eram objeto de tributação; ouro, diamante, açúcar, charque, passagem dos rios também, além de tantos outros que a lembrança pudesse alcançar.
Sugeriu-se, então, tributar um artigo comum em todo o território brasileiro e que, portanto, geraria renda suficiente para pagar o salário dos professores: a aguardente de cana-de-açúcar, conhecida como cachaça. Conforme as leis vindas da Metrópole, para cada tonel de 30 litros de cachaça seriam cobrados mil e quinhentos réis (1$500) a título de "subsídio literário" ..:. nome dado a esse novo tributo - e o dinheiro deveria ser revertido ao pagamento dos professores.
Ouça um resumo da postagem:
Apreciando ou não a cachaça, pelo jeito os professores tem uma dívida para com a aguardente. Muitos fazem o seu tributo tendo um contato degustativo com a mesma, que chega a ser diário. Você também pode ter um contato (visual), degustando as figuras abaixo que mostram algumas das imagens de Minas Gerais existentes no
Flickr sobre esse tema.